O que é a geriatria e qual a sua importância?
A geriatria é um ramo da medicina que se ocupa com a saúde dos idosos. Trata-se de uma especialidade que deve adquirir certo protagonismo no futuro. Um estudo publicado pela ONG HelpAge International revelou que cerca de 12,4% da população mundial têm mais de 60 anos de idade. Isso representa cerca de 900 milhões de indivíduos espalhados pelos quatro cantos do planeta.
O estudo também fez uma espécie de projeção para o futuro e concluiu que até 2030 o mundo será habitado por pouco mais de 1,4 bilhão de idosos e quase 2 bilhões em 2050. Teremos, em pouco mais de trinta anos, um mundo com mais idosos do que jovens, e ainda uma população de indivíduos com mais de 80 anos quatro vezes maior do que a atual.
Quando se trata da América Latina, o estudo aponta que, em 2025, pelo menos 10% dos idosos serão octogenários, graças aos avanços da medicina que, além de desenvolver métodos extremamente eficazes para o controle da natalidade, ainda ajudam a garantir vida longa para os indivíduos, graças a tratamentos mais sofisticados, cirurgias menos invasivas, além de outras técnicas utilizadas nos dias atuais.
No Brasil, a situação não é diferente da dos demais países, pois, assim como no resto do mundo, a expectativa de vida tende a aumentar, na proporção em que a taxa de natalidade é reduzida em níveis considerados de primeiro mundo.
Aqui já são mais de 27 milhões de indivíduos com mais de 60 anos (segundo o IBGE), e a previsão é de crescimento acentuado pelos próximos anos, podendo atingir a marca de 40 milhões em 2030, caso não ocorra algum fenômeno capaz de inibir esse crescimento.
O problema com esses números é que, comprovadamente, quase 90% dos indivíduos com mais de 65 anos têm algum tipo doença crônica, como diabetes, hipertensão, mal de Alzheimer, problemas cardíacos etc.
Uma população mais envelhecida, além resultar em menos mão de obra e mais despesas para a previdência social, significa mais gastos com tratamentos, medicamentos e internações, ou seja, uma solicitação bem maior do sistema de saúde de um país.
O que é geriatria?
O Viena International Plan of Action on Ageing (Plano de Ação Internacional de Viena sobre o Envelhecimento) estabeleceu com a permissão da ONU (Organização das Nações Unidas) que são considerados idosos todos os indivíduos a partir de 60 anos de idade (nos países em desenvolvimento) e a partir de 65 anos de idade (nos países desenvolvidos).
O foco da geriatria, portanto, são os cuidados com a saúde desses idosos, especificamente os aspectos concernentes à saúde física, mental, social e funcional dos indivíduos acima dos 60 anos de idade.
Esses cuidados têm por objetivo diagnosticar e prevenir distúrbios considerados crônicos ou agudos, bem como tratar as suas consequências e devolver-lhes a capacidade de atuar produtivamente dentro de uma comunidade. Tudo isso dentro de uma perspectiva holística – aquela que enxerga um indivíduo em sua totalidade, tanto física como mental e espiritual.
Esta ação geralmente é realizada pela união de forças entre especialistas de uma equipe composta por vários profissionais, como psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, clínicos gerais, entre outros, capazes de atuar em conjunto com o geriatra.
Esses profissionais deverão avaliar o idoso de acordo com as necessidades típicas de indivíduos dessa faixa etária, dentro de um conceito conhecido como Avaliação Geriátrica Ampla (AGA).
A AGA surgiu no final dos anos 1930 na Inglaterra a partir das pesquisas da britânica Marjory Warren, que percebeu a ineficácia do tratamento recebido pelos idosos à sua época, que se limitava ao combate de distúrbios e sintomas já estabelecidos, em detrimento da prevenção e da observação dos diversos fatores capazes de influenciar a saúde.
O que a médica constatou foi que o tratamento dado aos idosos não conseguia mais do que mantê-los vivos; não havia a reabilitação e preparação para uma volta à vida em sociedade. Logo, não pensou duas vezes e implantar o seu método, que consistia em avaliar cada caso em particular e tratá-los de acordo com suas necessidades individuais.
Tal foi o sucesso que, em 1936, sob o seu comando, a quase totalidade dos idosos internados em um hospital na Inglaterra recebeu alta ou apresentou uma melhora surpreendente.
Foi um evento considerado o divisor de águas da medicina voltada para o tratamento de idosos. Na verdade estava sendo fundada, ali, a geriatria moderna, que preconizava que todo idoso deveria ser tratado por meio de uma AGA, capaz de planejar a reabilitação antes de encaminhá-lo para uma instituição de longa permanência.
Qual a importância de contar com um geriatra?
As transformações ou degradação do organismo humano, como se sabe, começam a partir do nascimento e atingem o seu auge na velhice. Nessa fase, é mais claramente sentida a degradação molecular e estrutural a que o indivíduo é submetido ao longo da vida.
Essa deterioração apresenta-se em forma de transformações na estrutura dos tecidos, músculos, ossos etc.; comprometimento das funções fisiológicas; problemas de coordenação motora; queda da imunidade, entre outras características típicas dessa fase.
É quase um consenso entre os especialistas a opinião de que, na velhice, ter uma doença é praticamente uma regra, e que se torna uma realidade bem mais dura quando o indivíduo percebe a redução drástica da sua capacidade funcional.
É aí que a geriatria pode exercer uma função libertadora, pois somente ela possui os instrumentos capazes de manter o idoso “funcionando”, e fazer com que o seu corpo atenda adequadamente aos anseio de uma mente que, na maioria absoluta das vezes, ainda é bastante jovem.
Podemos, sem medo de errar, afirmar que um geriatra é o profissional capaz de auxiliar o indivíduo a fazer com que o seu corpo reaja, na medida do possível, aos anseios da sua mente; atuando numa perspectiva mais ampla: a de reintegrá-lo ao convívio social, familiar e, se possível, laboral – funções que dependem do equilíbrio humano do ponto de vista físico, mental e espiritual.
Autonomia passa a ser a palavra de ordem durante essa fase. Todos os esforços da geriatria deverão ser no sentido de conseguir que o idoso tenha, dentro de uma possibilidade realista, uma rotina o mais independente possível.
Nessa rotina, ele, ao menos, deverá ser o senhor das suas vontades e anseios, o que, por si só, apresenta uma função terapêutica, já que os transtornos psicossomáticos, como se sabe, são uns dos grandes responsáveis pelas estatísticas de doenças no mundo.
Portanto, sem o pleno conhecimento das peculiaridades de cada indivíduo, torna-se praticamente impossível a prática da geriatria dentro de uma perspectiva ampla e com garantia de sucesso.
É importante ter em mente, também, que as queixas e os sintomas não são suficientes para um diagnóstico correto e muito menos para um tratamento e prognóstico eficazes, pois não é incomum que um mesmo sintoma signifique distúrbios os mais variados e improváveis possível – até mesmo de origem –, e que exijam intervenções em esferas impensadas, sejam elas física, mental, sexual, laboral ou, até mesmo, espiritual.
Para dar respostas adequadas a essa não tão nova filosofia sobre saúde e qualidade de vida dos idosos, a AGA é a sua principal aliada, principalmente pela sua capacidade de intervenção com base em todas as dimensões da existência de um indivíduo e de integrar várias disciplinas diferentes, para que se transformem em um todo, responsável por cuidar da sua saúde integral.
Quando devo procurar um geriatra?
Diferentemente do que muitos imaginam, a geriatria não é uma especialidade indicada exclusivamente para idosos, pois, a partir dos 40 anos de idade, o organismo de um indivíduo já começa a dar sinais de “cansaço”.
O seu rendimento não é mais o mesmo, no entanto, como não há mudança de hábitos, com objetivo de adequar o estilo de vida à fase de “declínio” das capacidades fisiológicas, motoras e intelectuais, o resultado é muito mais trabalho para o geriatra, que se verá às voltas com um quadro que poderia ser ao menos minimizado durante a juventude.
Nessa fase, um clínico geral pode ser o seu melhor amigo, aquele que, digamos, irá “facilitar” o caminho do geriatra, quando a participação desse profissional tornar-se indispensável para a manutenção da qualidade de vida.
Um geriatra com uma boa experiência em clínica geral será o profissional perfeito para essa fase, quando se torna necessária uma investigação mais profunda das queixas e dos sintomas – uma análise como um todo –, que podem ter as mais diversas origens, abrangendo todos os fenômenos e as transformações que sofre o organismo humano.
Entre os 40 e 50 anos é hora de preocupar-se, por exemplo, com a influência de uma doença sobre as estruturas de órgãos totalmente independentes, como no caso de um simples resfriado, já que a baixa imunidade pode ser suficiente para “despertar” determinadas bactérias presentes no organismo e desencadear os mais diversos tipos de processos inflamatórios e infecciosos.
“Ninguém está são depois dos 50. São estão os jovens: os velhos têm sempre uma ou várias doenças que são próprias da idade”. Resumiu o médico, oncologista e escritor, Drauzio Varella — profundo conhecedor dessa fase da vida e, principalmente, de como torná-la menos dolorosa.
A procura pela geriatria (com foco em clínica geral) entre os 30 e 40 anos de idade é, portanto, a garantia de que o geriatra será apenas mais um auxiliar durante a sua caminhada.
Por meio das suas dicas de prevenção, evitará certos transtornos que, erroneamente, são considerados “próprios da velhice”. Sem contar que, como um efeito em cascata, facilitará, e muito, a intervenção futura de todos os demais especialistas.
Enfim, a geriatria, desde que atue de forma holística — atendendo com igual atenção a todas as dimensões da existência humana: física, mental, social, profissional, sexual, espiritual, entre outras —, será, verdadeiramente, o “braço direito” de um sujeito em idade avançada; capaz de ajudá-lo a reintegrar-se (dentro das suas possibilidades) no seio da sociedade de forma bastante produtiva — como só mesmo a experiência é capaz de permitir.
Qual a idade recomendada para procurar um geriatra?
A partir dos 60 anos de idade, uma série de sintomas podem surgir como consequência de alterações fisiológicas, moleculares e cognitivas, exigindo a participação mais efetiva de um profissional em geriatria.
É a partir dessa fase que os chamados Cincos Is começam, aos poucos, a se manifestar e reduzir, sensivelmente, a autonomia do idoso nas práticas do dia a dia.
Os Cincos Is representam, basicamente, os transtornos de:
Imobilidade – Responsável pela diminuição da força, flexibilidade ou, nos casos mais graves, pela completa imobilidade em um leito de hospital. Essa situação é uma das causas dos distúrbios relacionados com a má circulação (trombose, feridas, escaras, entre outros transtornos), perda de massa muscular, problemas nas articulações etc.
Incontinência urinária e/ou fecal – Outro fenômeno típico entre os idosos e um dos principais responsáveis pela perda da autonomia de um indivíduo.
Instabilidade postural – Um dos principais responsáveis por quedas e fraturas de fêmur, quadris e joelhos em idosos a partir dos 65 anos.
Insuficiência cerebral – Bem representada pelos casos de mal de Alzheimer, delírio, perda da capacidade intelectual (ou cognitiva), entre outros distúrbios.
Iatrogenia – Do grego: iatros = curador + genesis = origem. Uma espécie de reação adversa a procedimentos médicos normais, como cirurgias, curativos, medicação, introdução de sondas etc. É o resultado das alterações físicas e biológicas por que passam nessa fase da vida.
É, portanto, nesse momento, que fica evidente a importância da AGA, por ser capaz de unir várias disciplinas médicas com o objetivo de diagnosticar essas limitações e realizar um plano de tratamento para longo prazo, por meio do estímulo às suas capacidades funcionais, o que garante uma melhor qualidade de vida durante toda essa fase.
Enfim, é dos cuidados com a saúde desde os primeiros anos de vida, do hábito de consultar um clínico geral periodicamente a partir dos 30 anos, e ter no geriatra um parceiro a partir dos 60 anos, que depende a garantia de um final de vida mais digno, produtivo e feliz.
De acordo com a moderna geriatria, os cuidados com o idoso devem levar em consideração uma visão holística da existência do indivíduo. Mas, como esse conceito pode ser posto em prática nos dias atuais? Deixe seu comentário. E continue acompanhando as nossas publicações.